A Sede

Tanto quanto se sabe, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Sobral de Monte Agraço ter-se-á instalado, provisoriamente,na rua Heróis da Bélgica. De acordo com Amílcar Leitão, funcionava numa casa junto ao gaveto da rua do matadouro velho.De seguida conheceu nova casa, situada na atual avenida Marquês de Pombal, junto à rua da Liberdade. Mudou-se, posteriormente, para uma pequena sala instalada naquele que viria a ser o primeiro quartel. Durante vários anos, esse espaço foi alvo de ampliações e remodelações, com vista a torná-lo mais operacional.

Podemos considerar, assim, que a sua primeira sede social, na qual funcionou mais de setenta anos, se localizou na rua Miguel Bombarda.

No entanto, dez anos após a criação da corporação, os bombeiros sobralenses ainda não dispunham de um sinalpróprio de chamada de urgência, utilizando para isso o sino da igreja e a corneta da bomba FLAUD, como se recorda de ouvir contar o comandante Pedro Lima.

A partir de 1932, o apito do carro FORD dava uma ajuda na chamada dos bombeiros, buzinando en­ quanto dava avolta à vila de Sobral, como lembra o chefe José Vieira.

Em 1923, em resposta a um pedido remetido pela Câmara Municipal de Sobral, D. Luiz Braamcamp Sobralautorizou que o sino da sua capela, atual Igreja de Nossa Senhora da Vida, continuasse a ser usado para comunicar o alarme de incêndios, sendo esse serviço feito pela parte exterior do edifício, tal como vinha acontecendo.7Seis meses mais tarde, a mesma Câmara oficiou o comandante dos bombeiros voluntários para que procedesse às reparações do referido sino, correndo as despesas com a obra por conta do município.ª

Até 1927, as sessões da assembleia geral decorreram no teatro Eduardo Costa por falta de instalações próprias.Apenas, em 1929, surge referência à sua realização na sala de sessões da Associação dos Bombeiros Voluntáriosde Sobral de Monte Agraço.

A construção de um quartel tornava-se cada vez mais urgente, quer no que respeitava à necessidade deproporcionar condições adequadas para o trabalho e instrução dos bombeiros sobralenses, quer paraacondicionamento do material de serviço e socorro, que vinha sendo recolhido numa casa particular, que pertencia a Maria Júlia Dias, havia cerca de 10 anos.

As obras de construção do quartel da Associação tiveram, então, início em 1926, num terreno cedido por D. Luiz Braamcamp Sobral, tendo por base o projeto do engenheiro Efigénio Guedes.

A  escritura  de  compra  de  247 5   m2     de  terreno, no valor  de 1.247$50,  datou do mesmo ano  e foi efetuada por Adriano Brandão de Vasconcellos, na qualidade de presidente da direção da Associação dos Bombeiros Voluntários de Sobral.

O projeto  compreendia  uma  parte  operacional- o quartel – e uma parte social, onde os sócios sepodiam reunir, ocupando os seus tempos livres eparticipando na vida associativa.

A fiscalização das obras de construção foi delegada em Adolfo Rodrigues Neves.

Entre outubro de 1926 e março de 1927, os trabalhosde construção foram interrompidos devido ao atraso na entrega das cantarias, como se refere na reunião de direção de outubro de 1926: “Aindase fez uma tentativa, iniciando a construção das paredes, masa) entrada do inverno obrigou a suster a obra, que só poderá recomeçar na próxima primavera”.

Nesse ano, a Câmara Municipal de Sobral haveria de concorrer para essa obra com o subsídio de 500$00 (março)   e a Comissão Administrativa com2.000$00 (dezembro). Também a Junta Geral do Distrito de Lisboa concedeu um subsídio de 1.000$00 para ajudar na construção. Em março recomeçaram as obras do quartel, tendo como encarregado dos trabalhos de pedreiro o operário António dos Santos, do lugar de Maceira, artista de reconhecida competência.

Em consequência da falta de recursos financeiros, disponíveis para fazer face aos pagamentos dos materiais necessáriospara a construção do edifício dos bombeiros foi preciso contrair um empréstimo de 15.000$00, só possível realizar-se por intermédio do comandante João Simões da Silva Lopes, que se prestou como aceitante.

O mesmo comandante conseguiu, ainda, obter outro empréstimo, sem juros, junto de treze sócios que contribuíram com o valor de 100$00 cada um, para a compra da mobília da sala, destinada aos associados e que foi aberta no dia 01 de janeiro de 1929. No local foi colocada uma mesa reservada à leitura de jornais e revistas para distração dos sócios.

Em 1930, a direção mandou inventariar “todos os haveres móveis e imóveis da Associação” e, em janeiro de 1935, foram novamente registados todos os bens da instituição, incluindo os existentes no parque de material João Simões da SilvaLopes. Este inventário permite-nos, hoje, conhecer a realidade material da Associação à época.

Até  1929 tinham sido gastos cerca  de 100.000$00 na obra de edificação do quartel dos bombeiros. Este valor foi, maioritariamente, obtido através de festas realizadas para recolha de fundos, como o caso da festa do caracol, em 1925, que consistiu na venda de caracóis pintados que eram, depois, colo­ cados nas lapelas de quem contribuía. O chefe JoséVieira recorda-se: “Nos campos, apanhavam os cara­ cóis, (… ) depois eram pintados, faziam um furinho na ponta da entrada com um lacinho de seda de diversas cores e as moças, ali da vila, é que iam ter com este eaquele com um caracol e depois a pessoa dava o que entendia.

dava o que entendia. Essa foi uma grande festa dos bombeiros”; dos festejos de 04 e 05 de julho de1926, animados com música e iluminações e que contaram com a realização de touradas e de outras diversões como vacada, quermesse, tômbola, barracas de argolas e de tiro ao alvo, um desafio de futebol e corridas de bicicletas; ou no ano seguinte, entre 03 e 05 de julho de 1927, dos festejos abrilhantados pela Banda dos Alunos da Escola Agrícola de Paiã.

Nesse ano, os bombeiros voluntários de Sobral de Monte Agraço realizaram, também, uma lotariacujo

prémio foi uma motocicleta RALE/GH.

Em 1928, os festejos que decorreram, entre 01 e 03 de julho, ainda foram em benefício da conclusão do edifício do quartel. Além da parte desportiva, o programa incluiu uma tourada e duas vacadas, arraial, tômbola, quermesse, barracas de quinquilharias e comidas e venda da flor nas ruas da vila.

Por essa altura, teve lugar, no salão nobre do edifício do novo quartel dos bombeiros, uma exposição e venda de trabalhos manuais, cujo produto obtido foi oferecido pelas senhoras participantes ao cofre da corporação.

Concorrendo para a arrecadação de receita, teve lugar, também, em 1929, o leilão da madeira usada na construção do quartel (varas, barricas, aparas, entre outras), que rendeu 515$00.14

Por essa altura, o edifício encontrava-se quase con­ cluído, graças às generosas ofertas de pedra, de ou­ tros materiais e fretes. O comandante dos bombei­ ros voluntários, João Simões da Silva Lopes, numa entrevista ao Diário de Notícias, reconheceu como grandes cooperadores desta obra, o Conde de So­ bral e Eduardo Costa. Em homenagem foram colo­cados os seus retratos, na sala de sessões.’5

Ainda na mesma data, a direção propôs distinguir o construtor civil Domingos Lopes, residente no lugar do Pinheiro, como sócio honorário da Associação dos Bombeiros, por ter dirigido, gratuitamente, a construção do quartel e sede associativa.

Em 1932,0 presidente da direção da Associação dos Bombeiros Sobralenses, perante as dificuldades fi­ nanceiras que a instituição enfrentava, solicitou à Câmara Municipal que custeasse as despesas reali­ zadas com a construção do passeio frente ao quar­ tel e confinante com a rua Miguel Bombarda, nova­ lor de 342$90. Pedido aceite pela edilidade.

A Associação dos Bombeiros procedeu, também, à demolição e reconstrução de um muro, com lancil e gradeamento, bem como à abertura de um vão de porta para o serviço de viaturas do quartel dos bombeiros, no terreno confinante com a rua Miguel Bombarda e cuja despesa concorreu o governador civil do distrito de Lisboa, Tenente-coronel João Luís de Moura.

A presença de um caudal de água no terreno adqui­ rido para a parada do quartel fez com que a Asso­ ciação decidisse, em 1933, a abertura de um poço por considerá-lo de grande utilidade quer para uso doméstico, quer para o combate a incêndios, funcio­ nando como depósito no período estival, tendo em conta a falta de água que sempre se fez sentir na vila durante esta época do ano.

A 13 de setembro de 1936 teve lugar a inauguração do novo quartel. Três anos depois, foram adquiridas três bandeiras para serem hasteadas no edifício da Associação que, simbolicamente, passariam a contribuir para a identidade da instituição sendo “( … ) uma a Nacional, outra a da Saúde e outra a Associativa (…)”.16 Os números de polícia foram colocados nas portas e a lâmpada de chamada de socorros passou a estar permanentemente acesa.

Quatro anos mais tarde, o edifício-sede foi alvo de obras de conservação, incluindo pintura e estuque e, em 1952, volta a ser alvo de obras de reparação no interior e exterior, estando, também, contemplado o estuque do posto de socorros. Dez anos depois, providenciou-se a sua caiação.

Mediante a diversificação de áreas de atuação da Associação, foi adquirido, em 1969, mobiliário de escritório usado para substituir o existente na sala de direção, por este já não oferecer condições de arrumação de acordo com o registo documental re­ gistado. Procedeu-se, também, à pintura dos tetos, portas e janelas deste compartimento e aos arranjos das portas e janelas da marquise da sede.

Mas, o real crescimento de atuação operacional da Associação dos Bombeiros Voluntários de Sobral de Monte Agraço continuava a impor-se ao espaço disponível e, em 17 de dezembro de 1975, numa reunião de direção, tomou-se conhecimento da aquisição de 770 m2 de um terreno pertencente a António Braamcamp Sobral, destinado à ampliação do quartel, designadamente à construção do novo pavilhão para recolha de viaturas.17 A escritura de desanexação do referido terreno da propriedade chamada de “Quinta de Santo António” datou de 25 de junho de 1976. Ainda nesse ano, foi entregue, à Direcção da Circunscrição da Urbanização de Lisboa,

um pedido de comparticipação para o alargamento do parque de viaturas, cuja entidade financiou em 85%. As obras contaram, ainda, com um donativo de 10.000$00 dado pelos senhores António Manuel Correia Marques e JoãoFerreira da Silva Coelho.

A obra de alargamento foi realizada de acordo com o projeto elaborado pelo engenheiro Alexandre Genoveva Moreira e adjudicada a Joaquim Ministro Batista, de Torres Vedras, a quem coube executar, pelo valor de 1.500.000$00,as seguintes tarefas: desaterro de toda a área; muro de suporte de terras em todo o perímetro; instalação elétrica, conforme a direção dos serviços de equipamento; abertura da ligação entre o atual parque de viaturas e a nova obra; modificação da canalização de água existente para o tanque e depósito; modificação da instalação elétrica de funcionamento da sirene; colocação da fénix da Associação, com dimensões a combinar com o técnico da obra, naparede com revestimento a evine/.

Em 1978, a Direcção do Equipamento  do Distrito de Lisboa concedeu à Associação dos Bombeiros Sobralenses um reforço financeiro para conclusão da obra e, em janeiro de 1980, a Associação pediu à Câmara Municipal de Sobral a atribuição de uma verba destinada à reparação e beneficiação da parada do quartel. A entidade viria a atribuir o valor de 80.000$00 para auxílio das obras que perfizeram um total de 160.000$00.

A sede da Associação dos Bombeiros Voluntários de Sobral de Monte Agraço dispôs, durante alguns pe­ ríodos da sua existência, de um quarteleiro. Em tro­ ca de um vencimento mensal, ao quarteleiro com­ petia a limpeza do edifício, incluindo o material que pertencia às ambulâncias; a fiscalização do espaço recreativo enquanto fossefrequentado pelos sócios e a cobrança da quotização. Era-lhe, também, facul­ tada a exploração do buffet ficando, no entanto, obrigado a cedê-lo à direção durante as festas por ela promovidas.